terça-feira, 6 de julho de 2021

Efeitos psicológicos da Pandemia COVID-19 em pessoas ansiosas

 

Imagem de mulher usando uma máscaraÉ indiscutível que a pandemia do COVID-19 tem deixado profundas marcas emocionais em todos nós. No momento em que escrevo esse texto (julho de 2021), observo que as pessoas que mais sofreram com ansiedade na pandemia, mesmo estando vacinadas – ou seja, com chances comprovadamente baixíssimas de desenvolverem a forma grave da doença – continuam temerosas e hipervigilantes, como se o perigo ainda estivesse na mesma intensidade de antes da “chegada” dos anticorpos em seu organismo.

Estudiosos da saúde mental do mundo inteiro consentem que as sequelas psicológicas em muitas pessoas serão como sequelas de guerra. É indiscutível que pessoas mais ansiosas, com personalidades obsessivas, controladoras e perfeccionistas, estão sofrendo infinitamente mais. Esse traço de personalidade faz com que a pessoa queira controlar o incontrolável. Como o prognóstico desse cenário ainda é muito incerto, pessoas ansiosas e controladoras tendem a continuar hipervigilantes, como se a qualquer momento, o perigo voltasse a acontecer. De fato, não sabemos se podemos ou não ser otimistas quanto à realidade da pandemia. O que quero mostrar é que a ansiedade e o medo de uma pessoa não irão abrandar um cenário mundial, mas poderão “detonar” sua saúde mental.

Durante um ano e meio, até o presente momento, fomos diariamente bombardeados com informações de que deveríamos tomar cuidado, pois o perigo era invisível. Por quase 500 dias seguidos, estamos enviando para nosso cérebro a mensagem de que ele deve ficar em alerta. Assim, quando começarmos a viver o “pós-pandemia”, nosso cérebro precisará de um tempo para processar a informação de que não precisa ficar em alerta o tempo todo. Precisaremos reaprender a conviver socialmente sem medo, e sem enxergar perigo em tudo.

A revista asiática East Asian Arch Psychiatry apontou que, em 2003, quando o aconteceu a epidemia da Sars que matou 800 pessoas no mundo, 42% dos sobreviventes acabaram desenvolvendo algum tipo de transtorno psicológico (os mais comuns: pânico, depressão, TOC, TAG, fobias, ansiedade social). Isso mostra o quanto deveremos acompanhar nossa saúde mental após esta pandemia, na qual os danos foram infinitamente maiores que da epidemia citada acima. Sabemos que será ainda mais difícil para aqueles que sofreram perdas com esta pandemia, sejam perdas de entes queridos, prejuízos na saúde (sequelas), negócios de família falidos, ou qualquer outro tipo de perda.

Se você se percebe como uma pessoa com fortes traços ansiosos, e seu sofrimento está considerável, entenda que, após proteger seu organismo (imunização através da vacina), você já poderá começar a desassociar, gradativamente, seu cérebro do grande perigo. Isso não significa deixar de tomar os cuidados, mas diminuir a hupervigilância e a catastrofização. Mas como fazer isso? Deixo aqui três orientações para você:

1-      Não se pressione a voltar ao “normal” com pressa! Pois, ao mesmo tempo que você pode se permitir algumas coisas, retomar ao “novo normal” exige muito esforço psicológico. Tudo leva tempo. Estabeleça algumas pequenas metas que forem possíveis dentro da sua realidade. Por exemplo: programe uma caminhada ao ar livre, que é um ambiente mais seguro (aberto), sempre dizendo para si mesmo “não preciso temer tanto o coronavírus, meu organismo já está preparado para combate-lo.” Vá aumentando gradativamente, indo a supermercados, consultas médicas e outros locais.

2-      Inclua em sua rotina, cada vez mais, atividades que descomprimam a mente e ativem áreas cerebrais que promovam tranquilidade e alegria. Atividades físicas, meditação, terapia para se conhecer e fazer as pazes com sua história, leitura, música e expressões artísticas que forem do seu agrado (pintura, artesanato, jardinagem, culinária, etc.), contato com a natureza. Dê prioridade a estas atividades no seu dia, como uma forma de desativar gradativamente as áreas cerebrais de alerta e trazer relaxamento para sua mente.

3-      Ao invés de questionar, aceite o que aconteceu. Não fique se martirizando, pensando “e se eu tivesse tomado mais cuidado?”, “e se eu não tivesse saído aquele dia?”, “e se eu tivesse aceitado outro trabalho? Talvez não tivesse falido”. Esses questionamentos, além de não trazerem nada de volta, aumentarão sua angústia e tristeza. Entenda que você não podia prever nenhuma acontecimento e sempre fez o que acreditava ser melhor. Aceite que há um tempo para tudo nessa vida. Ressignificar o que aconteceu te ajudará a seguir adiante.

 

Espero que esse texto tenha clareado algumas dúvidas em sua mente e te ajudado de alguma forma. Não deixe de buscar ajuda psicológica se julgar necessário. Priorize sua saúde mental, pois o baque foi grande para todos nós, e dificilmente conseguimos nos levantar plenamente sem nenhuma ajuda. Desejo um excelente reestabelecimento para você!

 

Luciana Rodrigues

Psicóloga - CRP 04/34188

INSTAGRAM: https://www.instagram.com/lucianarodriguespsico/

TELEGRAM: https://t.me/aliviandomentesansiosas 

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