segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Mania de Comparação



Comparar-se com os outros é uma tendência natural do ser humano. Na ausência de meios objetivos, procuramos comparar-nos com outras pessoas visando avaliar nosso desempenho, nossas atitudes, quem somos; ou seja, as outras pessoas servem-nos como ponto de referência. Existem inúmeros benefícios ocasionados de uma comparação saudável; entretanto, neste texto, gostaria de enfocar aquelas comparações que podem prejudicar nossas vidas.
As redes sociais têm feito com que muitas pessoas recorram a comparações de maneiras excessivas e inadequadas. Uma pessoa que sofre de “comparacite” olha as atualizações de seus amigos nas redes sociais (que costumam colocar apenas os momentos bons e felizes de sua vida) e começa a pensar “como o fulano é feliz em seu namoro/ casamento, e eu com todas essas crises aqui”, “vejo a quantidade de viagens que aquela pessoa faz, para tantos lugares bonitos, a vida financeira dela deve estar muito boa, enquanto eu estou custando a pagar minhas contas”, “estou vendo a quantidade de amigos daquela garota e os eventos sociais que ela vai, e eu aqui numa solidão danada”, “como ele está bem sucedido no trabalho”, “estou pasmo do quanto a família do fulano é feliz e equilibrada”; e tantos outros pensamentos, que faz com que a pessoa acredite que a vida dos outros está uma maravilha enquanto a sua está um caos. Já atendi pessoas que acompanham vidas de pessoas famosas pelas redes sociais e ficam observando o estilo de vida destas celebridades, que mostram os lugares requintados que freqüentam, a facilidade com que viajam pra o exterior, o consumismo desenfreado, o “corpo perfeito”, os carros, mansões, negócios e, quando estes seguidores olham sua própria vida, pensam “não consigo fazer nem 1% de tudo isso”, e se sentem inferiores, desvalorizando seus próprios feitos e conquistas diárias. Comparamo-nos com os outros em diversas facetas, como características pessoais, habilidades, famílias, relacionamentos, talentos, posses, poder, status, prêmios.
O Dr. Arthur Freeman e Rose DeWolf, em seu livro “As 10 bobagens mais comuns que as pessoas inteligentes cometem”, escreveram um capítulo direcionado à mania de comparação, no qual constam algumas questões relevantes sobre o assunto que eu gostaria de discutir. Ao nos compararmos com outras pessoas, esta comparação acontece de duas formas:

1- Comparamo-nos àqueles que têm mais no que nós, e não aos que têm menos.
As suas comparações acontecerão com mais freqüência com pessoas que você considera que “são mais do que você”. Você se comparará a quem tem mais dinheiro, a quem tem melhor desempenho no trabalho, a quem tem mais facilidade no esporte, quem você considera mais bonito, enfim, todos que você considera “ter mais”, o que fará que você se sinta inferior. Dificilmente você se comparará a quem parece ter menos e se sentir satisfeito e valorizado.

2- Comparamo-nos a quem acreditamos ser nossos concorrentes
Você não procurará se comparar freqüentemente com o presidente dos Estados Unidos, ou ao cientista que ganhou o prêmio Nobel, ou à modelo que ganhou prêmio internacional – a não ser que você almeje alguma destas coisas e essas pessoas se tornem seus oponentes. Mesmo que em outro momento do texto eu tenha citado o quanto as pessoas se comparam até mesmo com pessoas famosas em redes sociais, o alvo da comparação costumará ser aqueles que apresentam alguma semelhança com você, que de alguma forma você se identifica e considera seu concorrente. Essa pessoa será seu colega de trabalho, seu vizinho, a mulher/ homem que você considera uma ameaça para seu relacionamento amoroso, seus amigos, familiares, e todos com os quais haja algum grau de semelhança, convivência ou concorrência.

Prejuízos da comparação excessiva
Uma comparação saudável e necessária é aquela que tem como resultado um fator de motivação (quero ser como aquela pessoa que eu admiro) e aprimoramento, de forma que esta pessoa gera em você um ponto de referência saudável que lhe faz buscar melhora e crescimento. Contudo, quando os frutos da comparação extrapolam este resultado, ela pode trazer alguns prejuízos.
 

·        -  Você desiste das tentativas para atingir seu objetivo: “como nunca vou ser o melhor vendedor como aquela pessoa, nem adianta tentar”; “como eu me acho muito mais feia do que outras pessoas, nem compensa eu me arrumar”, “como nunca vou tocar violão tão bem quanto meu professor de música, é melhor eu nem tentar”.
·        -  Pode instalar em você um contínuo complexo de inferioridade, fazendo com que você desvalorize tudo o que você tem em detrimento à uma valorização de tudo o que é do outro. É onde se encaixa a conhecida frase popular: “a grama do vizinho está sempre mais verde que a minha”.
·         - Você pode ter uma ânsia tão grande em querer se igualar ao outro que é capaz de fazer qualquer coisa, mesmo que não tenha condições de tempo, financeiras ou emocionais para isto. Por exemplo: às vezes você quer tanto ter um carro como o do seu amigo, mas não tem condições financeiras para tê-lo; em nível de “comparacite”, pode comprar um carro do mesmo nível ou até melhor, mesmo sem ter condições, o que pode ocasionar em dívidas, descontrole financeiro e outros problemas por querer igualar-se ou sobressair ao seu amigo.


Alguns passos para evitar a comparação desregulada

1-      Não tire conclusões da vida do outro com base em um único fato
Talvez você imagine que a pessoa com a qual você se compara é uma pessoa muito feliz porque é bem-sucedida na profissão. Mas, como você pode ter certeza de que ela é plenamente feliz por isso? Se ela diz para todos que é muito feliz e você queria ser como ela, que certeza você pode ter se está tudo bem as nas outras áreas da vida dela? Como serão seus relacionamentos? E sua saúde? A felicidade do ser humano não pode estar baseada em apenas uma área que é aparentemente satisfeita. Muitas pessoas querem mostrar que estão felizes em seu casamento, mas ninguém sabe o que acontece só entre os dois. Procure saber da história toda, em todos os sentidos.

2-      Cuidado para não criar uma fantasia de que os outros vivem em um “mar de rosas”
Dr. Arthur Freeman cita: “É fácil acreditar que os outros não têm problemas, que conseguem tudo com facilidade, que vivem num mar de rosas, sobretudo quando não os conhecemos muito bem. Se estamos comparando a nossa própria vida com aquela que inventamos para alguém, vai ser difícil evitar o sentimento de inadequação”. Não raramente, ouvimos histórias de milionários e/ou celebridades que relatam infelicidade, se afundam em depressão, vício em drogas ou cometem suicídio (como Robin Williams, Marylin Monroe, Michael Jackson e sua tristeza); e a sociedade sempre assusta, por criar uma fantasia de que pessoas bem sucedidas na carreira e financeiramente possuem uma vida de plena felicidade. Cuidado para não criar uma fantasia irreal de alegria das pessoas com as quais você compara.

3-      Combata a tendência em supervalorizar os aspectos positivos do outro e desvalorizar os seus
Quando você estiver deslumbrado com a maravilha que é família da outra pessoa (normalmente uma interpretação baseada em um único aspecto ou fantasia de perfeição do outro que você cria), olhe para a sua família que, mesmo com problemas, possui seus aspectos positivos importantes que talvez outras famílias não tenham. Ao imaginar o quanto seu colega é realizado por ser tão reconhecido no que faz (no trabalho, com seu talento), olhe também para seus talentos e o trabalho que você realiza, podem não ser exatamente iguais aos do seu colega, mas alguém já lhe deve ter dito o quanto os seus potenciais são relevantes e contribuem para algo. As outras pessoas têm suas conquistas, qualidades e realizações, mas você tem as suas, mesmo que sejam diferentes, mas são únicas da sua personalidade e história. Seja justo em suas comparações.

4-      Compare-se com você mesmo
Ao invés de gastar suas energias comparando-se excessivamente aos outros, compare-se com você mesmo. Faça uma comparação de você hoje com você há 5 anos atrás, o que mudou para melhor? O que você desenvolveu? O que você aprimorou? Compare-se também com o seu futuro, ou seja, com a possibilidade do que você pode vir a ser no futuro, no que você é capaz de conseguir.



Se você percebe sofrer de “comparacite”, reflita nestas questões e inicie este desafio assumindo o controle dos seus próprios pensamentos que estão relacionados à comparação desregulada. Você vai perceber que sua vida pode ser bem mais fácil e satisfatória se você se comparar aos outros com uma freqüência menor.

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