segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Mania de Comparação



Comparar-se com os outros é uma tendência natural do ser humano. Na ausência de meios objetivos, procuramos comparar-nos com outras pessoas visando avaliar nosso desempenho, nossas atitudes, quem somos; ou seja, as outras pessoas servem-nos como ponto de referência. Existem inúmeros benefícios ocasionados de uma comparação saudável; entretanto, neste texto, gostaria de enfocar aquelas comparações que podem prejudicar nossas vidas.
As redes sociais têm feito com que muitas pessoas recorram a comparações de maneiras excessivas e inadequadas. Uma pessoa que sofre de “comparacite” olha as atualizações de seus amigos nas redes sociais (que costumam colocar apenas os momentos bons e felizes de sua vida) e começa a pensar “como o fulano é feliz em seu namoro/ casamento, e eu com todas essas crises aqui”, “vejo a quantidade de viagens que aquela pessoa faz, para tantos lugares bonitos, a vida financeira dela deve estar muito boa, enquanto eu estou custando a pagar minhas contas”, “estou vendo a quantidade de amigos daquela garota e os eventos sociais que ela vai, e eu aqui numa solidão danada”, “como ele está bem sucedido no trabalho”, “estou pasmo do quanto a família do fulano é feliz e equilibrada”; e tantos outros pensamentos, que faz com que a pessoa acredite que a vida dos outros está uma maravilha enquanto a sua está um caos. Já atendi pessoas que acompanham vidas de pessoas famosas pelas redes sociais e ficam observando o estilo de vida destas celebridades, que mostram os lugares requintados que freqüentam, a facilidade com que viajam pra o exterior, o consumismo desenfreado, o “corpo perfeito”, os carros, mansões, negócios e, quando estes seguidores olham sua própria vida, pensam “não consigo fazer nem 1% de tudo isso”, e se sentem inferiores, desvalorizando seus próprios feitos e conquistas diárias. Comparamo-nos com os outros em diversas facetas, como características pessoais, habilidades, famílias, relacionamentos, talentos, posses, poder, status, prêmios.
O Dr. Arthur Freeman e Rose DeWolf, em seu livro “As 10 bobagens mais comuns que as pessoas inteligentes cometem”, escreveram um capítulo direcionado à mania de comparação, no qual constam algumas questões relevantes sobre o assunto que eu gostaria de discutir. Ao nos compararmos com outras pessoas, esta comparação acontece de duas formas:

1- Comparamo-nos àqueles que têm mais no que nós, e não aos que têm menos.
As suas comparações acontecerão com mais freqüência com pessoas que você considera que “são mais do que você”. Você se comparará a quem tem mais dinheiro, a quem tem melhor desempenho no trabalho, a quem tem mais facilidade no esporte, quem você considera mais bonito, enfim, todos que você considera “ter mais”, o que fará que você se sinta inferior. Dificilmente você se comparará a quem parece ter menos e se sentir satisfeito e valorizado.

2- Comparamo-nos a quem acreditamos ser nossos concorrentes
Você não procurará se comparar freqüentemente com o presidente dos Estados Unidos, ou ao cientista que ganhou o prêmio Nobel, ou à modelo que ganhou prêmio internacional – a não ser que você almeje alguma destas coisas e essas pessoas se tornem seus oponentes. Mesmo que em outro momento do texto eu tenha citado o quanto as pessoas se comparam até mesmo com pessoas famosas em redes sociais, o alvo da comparação costumará ser aqueles que apresentam alguma semelhança com você, que de alguma forma você se identifica e considera seu concorrente. Essa pessoa será seu colega de trabalho, seu vizinho, a mulher/ homem que você considera uma ameaça para seu relacionamento amoroso, seus amigos, familiares, e todos com os quais haja algum grau de semelhança, convivência ou concorrência.

Prejuízos da comparação excessiva
Uma comparação saudável e necessária é aquela que tem como resultado um fator de motivação (quero ser como aquela pessoa que eu admiro) e aprimoramento, de forma que esta pessoa gera em você um ponto de referência saudável que lhe faz buscar melhora e crescimento. Contudo, quando os frutos da comparação extrapolam este resultado, ela pode trazer alguns prejuízos.
 

·        -  Você desiste das tentativas para atingir seu objetivo: “como nunca vou ser o melhor vendedor como aquela pessoa, nem adianta tentar”; “como eu me acho muito mais feia do que outras pessoas, nem compensa eu me arrumar”, “como nunca vou tocar violão tão bem quanto meu professor de música, é melhor eu nem tentar”.
·        -  Pode instalar em você um contínuo complexo de inferioridade, fazendo com que você desvalorize tudo o que você tem em detrimento à uma valorização de tudo o que é do outro. É onde se encaixa a conhecida frase popular: “a grama do vizinho está sempre mais verde que a minha”.
·         - Você pode ter uma ânsia tão grande em querer se igualar ao outro que é capaz de fazer qualquer coisa, mesmo que não tenha condições de tempo, financeiras ou emocionais para isto. Por exemplo: às vezes você quer tanto ter um carro como o do seu amigo, mas não tem condições financeiras para tê-lo; em nível de “comparacite”, pode comprar um carro do mesmo nível ou até melhor, mesmo sem ter condições, o que pode ocasionar em dívidas, descontrole financeiro e outros problemas por querer igualar-se ou sobressair ao seu amigo.


Alguns passos para evitar a comparação desregulada

1-      Não tire conclusões da vida do outro com base em um único fato
Talvez você imagine que a pessoa com a qual você se compara é uma pessoa muito feliz porque é bem-sucedida na profissão. Mas, como você pode ter certeza de que ela é plenamente feliz por isso? Se ela diz para todos que é muito feliz e você queria ser como ela, que certeza você pode ter se está tudo bem as nas outras áreas da vida dela? Como serão seus relacionamentos? E sua saúde? A felicidade do ser humano não pode estar baseada em apenas uma área que é aparentemente satisfeita. Muitas pessoas querem mostrar que estão felizes em seu casamento, mas ninguém sabe o que acontece só entre os dois. Procure saber da história toda, em todos os sentidos.

2-      Cuidado para não criar uma fantasia de que os outros vivem em um “mar de rosas”
Dr. Arthur Freeman cita: “É fácil acreditar que os outros não têm problemas, que conseguem tudo com facilidade, que vivem num mar de rosas, sobretudo quando não os conhecemos muito bem. Se estamos comparando a nossa própria vida com aquela que inventamos para alguém, vai ser difícil evitar o sentimento de inadequação”. Não raramente, ouvimos histórias de milionários e/ou celebridades que relatam infelicidade, se afundam em depressão, vício em drogas ou cometem suicídio (como Robin Williams, Marylin Monroe, Michael Jackson e sua tristeza); e a sociedade sempre assusta, por criar uma fantasia de que pessoas bem sucedidas na carreira e financeiramente possuem uma vida de plena felicidade. Cuidado para não criar uma fantasia irreal de alegria das pessoas com as quais você compara.

3-      Combata a tendência em supervalorizar os aspectos positivos do outro e desvalorizar os seus
Quando você estiver deslumbrado com a maravilha que é família da outra pessoa (normalmente uma interpretação baseada em um único aspecto ou fantasia de perfeição do outro que você cria), olhe para a sua família que, mesmo com problemas, possui seus aspectos positivos importantes que talvez outras famílias não tenham. Ao imaginar o quanto seu colega é realizado por ser tão reconhecido no que faz (no trabalho, com seu talento), olhe também para seus talentos e o trabalho que você realiza, podem não ser exatamente iguais aos do seu colega, mas alguém já lhe deve ter dito o quanto os seus potenciais são relevantes e contribuem para algo. As outras pessoas têm suas conquistas, qualidades e realizações, mas você tem as suas, mesmo que sejam diferentes, mas são únicas da sua personalidade e história. Seja justo em suas comparações.

4-      Compare-se com você mesmo
Ao invés de gastar suas energias comparando-se excessivamente aos outros, compare-se com você mesmo. Faça uma comparação de você hoje com você há 5 anos atrás, o que mudou para melhor? O que você desenvolveu? O que você aprimorou? Compare-se também com o seu futuro, ou seja, com a possibilidade do que você pode vir a ser no futuro, no que você é capaz de conseguir.



Se você percebe sofrer de “comparacite”, reflita nestas questões e inicie este desafio assumindo o controle dos seus próprios pensamentos que estão relacionados à comparação desregulada. Você vai perceber que sua vida pode ser bem mais fácil e satisfatória se você se comparar aos outros com uma freqüência menor.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

O processo de escolha do parceiro






Quando uma pessoa escolhe outra para ser seu parceiro (ou parceira), existe uma série de mecanismos psicológicos envolvidos que vão nortear e validar esta escolha. Estes mesmos mecanismos são fundamentais também para entender as crises que acontecem dentro de um relacionamento amoroso. Para que você possa entender melhor este tema, é importante entender primeiramente o que são os “Esquemas Mentais”.

Os esquemas mentais consistem em um conjunto de idéias que temos a respeito de nós mesmos e de nossas relações com os outros. É um padrão de pensamento estável, duradouro e que norteia nosso funcionamento diante do mundo. É uma espécie de lente repleta de vivências, pensamentos, sentimentos e situações através das quais uma pessoa observa os acontecimentos. Por exemplo: uma pessoa que possui um esquema mental de abandono (provavelmente por ter sentido algum grau de abandono durante sua infância) tende a ter falta de confiança nas pessoas e pode evitar relacionamentos íntimos por medo de ser abandonado. Os esquemas são formados assim:

TEMPERAMENTO INATO + EXPERIÊNCIAS NA INFÂNCIA = ESQUEMAS

Estes esquemas são acionados em diversas situações da nossa vida. Uma pessoa que viveu em um ambiente cheio de conflitos na infância, em sua vida adulta, sempre que viver ou presenciar uma situação de conflito que, de alguma forma, relembre o ambiente de sua infância, terá seus esquemas mentais acionados e, juntamente com eles, seus medos e inseguranças.



Neste sentido, o que acontece no processo de busca de um parceiro?

A pessoa tende a recriar o ambiente que viveu na infância, seja ele bom ou ruim;
A pessoa atribui ao outro e a própria relação a condição de resolver suas necessidades internas;
A pessoa procura um alicerce para crescimento pessoal.




A escolha do parceiro é direcionada para:

Satisfazer demandas pessoais, tanto conscientes como inconscientes;
Para confirmar idéias precoces quanto a si mesmo e quanto ao mundo;
Para reeditar interações de conflito vivenciadas no passado, oferecendo uma possibilidade de resolução ou manutenção do conflito.



O relacionamento amoroso é o tipo de relacionamento mais próximo que temos do relacionamento com a nossa família de origem.  É por isso que, neste tipo de relacionamento, tendemos a querer recriar o ambiente da nossa infância. As famílias funcionam de acordo com seus sistemas de crenças passados de geração em geração, e quando duas pessoas se unem para formar um casal, cada um leva para o casamento um conjunto de crenças vividas com sua família de origem, e neste ponto é que podem começar a surgir os conflitos. A construção da relação amorosa se dará pelo entrelaçamento dos esquemas mentais com os do parceiro originando demandas específicas.  Na relação conjugal, estes esquemas são ativados.
 Quando há predomínio dos esquemas adaptativos (vivências infantis percebidas como positivas) no relacionamento amoroso, o relacionamento se construirá a partir da soma de habilidades individuais, estabelecendo-se um clima de cooperação e cumplicidade que fortalecerá o casal e também cada pessoa. A relação será satisfatória e dirigida para o crescimento.  Mas, quando a escolha se dá com base nos esquemas desadaptativos (vivências infantis percebidas como dolorosas, podendo gerar interações perturbadas na vida adulta),a relação se construirá de forma perturbada, tendendo a reforçar estes esquemas por meio de pensamentos distorcidos, o que propicia um clima de insatisfação e conflito crônico.


Segue abaixo uma tabela que mostra alguns esquemas desadaptativos, o que significa cada um deles e as respostas que geram em um relacionamento amoroso:


ESQUEMA MENTAL
SIGNIFICADO
RESPOSTAS EM UM RELACIONAMENTO AMOROSO
Abandono
Falta de confiança nas pessoas disponíveis para apoio.
- Seleciona parceiros não confiáveis para relacionamento.
- Evita relacionamentos íntimos por medo de ser abandonado.
Desconfiança
A pessoa tende a achar que será magoada, enganada ou trapaceada pelos outros.
- Não confia no parceiro.
- Não se entrega emocionalmente.
Privação Emocional
Acha que seus desejos de apoio emocional não serão atendidos.
- Seleciona parceiros incapazes de satisfazer suas necessidades emocionais.
- É emocionalmente exigente.
Vergonha
A pessoa percebe-se como inferior, indesejada ou indigna de amor.
- Isola-se, evitando a expressão genuína de sentimentos.
Isolamento social
Sentimento de não pertencer a nada nem a ninguém.
- Foca-se mais nas diferenças do que nas semelhanças com o parceiro.
- Evita proximidade.
- Faz de tudo para igualar-se ao parceiro (camaleão).
Dependência/ Incompetência
A pessoa acha que é incapaz de assumir responsabilidades no dia-a-dia sem o auxílio dos outros.
- Não faz nem decide nada sem perguntar ao parceiro.
- Evita situações em que tenha que tomar decisões.
Vulnerabilidade à danos e doenças
Medo exagerado de que algo ruim aconteça.
- Teme situações de conflito na relação e, por isso, não aborda temas polêmicos com o parceiro.
Emaranhamento/
Self subdesenvolvido
A pessoa tem um excessivo envolvimento com a família de origem e falta de identidade conjugal.
- Não assume papel na vida com o parceiro e não se envolve muito no relacionamento.
- Sempre está recorrendo à família de origem para todos os temas de sua vida.

Fracasso
A pessoa tende a acreditar que sempre vai falhar, em tudo.
- Evita situações de conflito.
- Nega qualquer problema ou dificuldades na relação.
Merecimento/ Grandiosidade
A pessoa acredita ser superior aos outros, merecedora de privilégios e direitos especiais.
- Intimida e constrange o parceiro com suas próprias realizações.
- Evita situações nas quais não possa se mostrar superior ao parceiro.
Insuficiência de auto-controle e auto-disciplina
A pessoa tem dificuldades no controle dos impulsos, desejos e emoções; e fica muito irritada quando algo não dá certo.
- Impulsivo e agressivo na relação.
Subjugação e Auto-sacrifício
A pessoa de submete excessivamente aos desejos do outro para evitar abandono.
- Extremamente devotado ao parceiro, esquecendo de si próprio.
- Evita discordar do parceiro.
- Evita situações em que seus desejos próprios desejos fiquem em primeiro plano.
 



Espero que este texto tenha sido esclarecedor, ajudando você a entender como os processos psicológicos de cada ser humano influenciam na busca de outra pessoa para namorar ou casar. Que você possa fazer uma reflexão a respeito dos seus próprios esquemas mentais, como eles atuaram (ou atuam) na escolha do seu parceiro e como estes mesmos esquemas podem estar predispondo algumas crises no seu relacionamento. Se você identificou esquemas desadaptativos, preste bastante atenção neles e procure não reforçá-los.  Um bom psicólogo pode ajudar você com relação aos seus próprios esquemas, para que você aprenda a lidar melhor consigo mesmo e com seu parceiro.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Como cuidar de uma pessoa com depressão?


       
     

    
      No texto anterior, discorri sobre o que é a depressão, sinais e sintomas, características, pensamentos e sentimentos de um portador da doença. Para complementar, considero importante transmitir informações para aqueles que convivem e cuidam de algum familiar ou amigo com depressão.
Cuidar de uma pessoa com depressão não é uma tarefa muito simples. Se você convive com alguém com o distúrbio, sabe que é trabalhoso. Você                precisa avaliar bem as palavras que vai dizer, além de, em muitos momentos,         não saber o que fazer para animar a pessoa, sente que todas as suas tentativas         de alegrá-la estão sendo em vão. De fato, a pessoa com depressão se torna             muito mais sensível a uma simples palavra ou brincadeira, se fecha em seu             mundo e não se anima a fazer quase nada do que você propõe. Talvez a impressão que você                 tenha é que ela nem te escuta e não leva em consideração os seus esforços para ajudá-la. Neste           sentido, disponho algumas informações e dicas importantes para lhe ajudar melhor nesta tarefa:

1- ENTENDA O QUE É A DEPRESSÃO

Se você cuida de uma pessoa com depressão, é indispensável à você obter o máximo possível de informações sobre o transtorno. Leia, estude, pesquise, converse com outras pessoas que vivem a mesma situação. Quanto mais você fizer isto, melhor vai entender a pessoa com quem você convive. Você conseguirá detectar os sintomas e compreender que o desânimo, os choros, a falta de vontade de viver e o isolamento não são simplesmente “frescura” ou falta de força de vontade da pessoa, mas que são características comuns à doença. A depressão não é uma escolha, e não desaparece com um simples pensamento positivo ou com saídas de casa e envolvimento em atividades, a questão é bem mais complexa. Não adianta falar para a pessoa “Não seja tão baixo-astral”, pois se ela conseguisse simplesmente não ser tão negativa, ela não seria. É como se você disse para um surdo: “deixe de ser surdo”. Repito: a depressão não é uma escolha, é uma condição em que a pessoa se encontra (assim como um surdo, um cego, um diabético), e esta pessoa precisa de muita ajuda e paciência para sair deste estado. Compreender a magnitude da doença ajudará você a ser mais paciente com a pessoa que você cuida.


2- OUÇA ATIVAMENTE, SEM JULGAMENTOS
Permitir a pessoa falar de sua tristeza a ajudará a colocar para fora um pouco da angústia que está sentindo. Cabe a você incentivar que a pessoa fale. É importante que você ouça sem julgamentos. Não brigue com ela quando disser que não tem mais vontade de viver, que não há nada de bom na vida; simplesmente deixe-a falar o que está sentindo. Se você reprimir, ela se sentirá ainda mais culpada por estar tendo estes pensamentos e sentimentos, o que poderá piorar o quadro depressivo. Não demonstre susto se ela disser que pensa em se matar, pois se você encarar esta revelação dela com muita repulsa, ela não falará sobre isso com você; neste caso, você poderá tomar outras providências que serão apontadas mais adiante. A pessoa deprimida se condena diariamente, e a última coisa que precisa é de outra pessoa que lhe aponte o dedo.

3- INCENTIVE A PESSOA A SE TRATAR E NÃO INTERROMPER O TRATAMENTO
Assim que você perceber que a pessoa está com sinais de depressão, deve incentivá-la a procurar ajuda profissional o mais rápido possível. Quanto mais rápido o tratamento começar, mais rápida a recuperação. É muito comum a pessoa não aceitar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra, por ainda ter estigmas de achar que “está descontrolada” ou “louca”, ou por pensar que é uma tristeza que vai passar com o tempo. Sim, uma tristeza reativa passa com o tempo, mas a depressão não; esta última, pelo contrário, quanto mais a pessoa demorar a se tratar, mais difícil e resistente a doença fica. Em alguns casos, a pessoa está numa depressão tão profunda que acredita não possuir forças nem para falar sobre o que está sentindo e freqüentar consultas médicas e psicológicas. Ajude a pessoa a compreender que é uma doença como qualquer outra (doença cardíaca, gripe, diabetes) e precisa de tratamento. Incentive-a a prosseguir no tratamento, tomar as medicações e se engajar na terapia, pois, não raramente, a pessoa pode achar que não está adiantando nada e abandonar o tratamento. A recuperação da depressão é um processo longo, que exige perseverança e paciência, por isso, faça o máximo para que a pessoa não desista de se tratar, mesmo que o tratamento seja demorado.
 

4- PASSE TEMPO DE QUALIDADE COM A PESSOA
A tendência do depressivo é se isolar. De fato, em alguns momentos, a pessoa vai precisar ficar sozinha para chorar e elaborar sua dor, mas você deve cuidar para que ela não fique muito tempo só. Seja uma companhia agradável que não julgue sua tristeza, que não a condene pelo choro excessivo (deixe-a chorar, pois o choro ajuda a aliviar os sintomas). Invista em tempo de qualidade e estimule a pessoa a voltar, aos pouquinhos, a realizar as atividades que antes lhe davam prazer. Faça isto sem forçar e sem muita intensidade, pode acontecer de a pessoa sair e querer voltar para casa rápido. É importante incentivar, mas, ao mesmo tempo respeitar os limites da pessoa; de fato, ela não conseguirá fazer as coisas na mesma freqüência e intensidade do que antes da depressão. Converse com ela sobre assuntos alegres, assistam vídeos engraçados e filmes de comédia para estimular o riso, que libera Endorfina e ajuda a aliviar os sintomas momentaneamente.
5- FAÇA EXERCÍCIOS FÍSICOS COM A PESSOA
Disposição para se exercitar é algo que o deprimido definitivamente não tem. A depressão provoca uma queda de energia que faz com que a pessoa só queira ficar deitada e se canse com muita facilidade. Contudo, o exercício físico constitui uma ferramenta poderosa no combate à depressão. Após 30 ou 40 minutos exercitando o corpo, o nosso libera Endorfina, que produz sensação de relaxamento e bem-estar. Além disso, o exercício físico estimula, no cérebro, a produção de Serotonina – uma substância que está em baixa no cérebro do depressivo e responsável pelos sintomas - ; aumento na produção de Serotonina significa diminuição dos sintomas depressivos. Com certeza, a pessoa não estará disposta a fazer uma aula pesada de ginástica, ou uma aula de luta, ou grandes corridas; mas comece a fazer junto com ela uma simples caminhada, de preferência em um lugar que tenha contato com a natureza, e aos poucos, você vão aumentando a intensidade dos exercícios.
6- AJUDE A PESSOA COM AS TAREFAS DIÁRIAS
Para o deprimido, qualquer pequena tarefa parece ser difícil demais. Uma dona de casa pode uma grande dificuldade em lavar uma louça. Uma recepcionista pode não ter forças para atender um telefone (por isso muitos são afastados do trabalho para tratamento). Assim, ajude-a a organizar seu quarto, preparar uma refeição, fazer uma ligação para resolver algo, levar a roupa para lavanderia, ir ao banco pagar uma conta, dirigir para ela, marcar ou desmarcar algum compromisso. Se a pessoa tiver que fazer tudo sozinha, terá muitas dificuldades (por causa da diminuição da energia, da concentração e memória) e se sentirá ainda mais culpada por algumas coisas na sua vida não estarem sendo resolvidas. Pequenas ajudas da sua parte ajudarão a diminuir um pouco as obrigações da pessoa e o “peso” que ela está sentindo.
7- AJUDE A PESSOA A SE CUIDAR
Não raramente, a pessoa com depressão descuida de si, pode não querer tomar banho, escovar os dentes, pentear os cabelos, vestir uma roupa bonita. É importante que você não force e não dane com a pessoa por isso, mas, com muito tato e persuasão, incentive-a a se vestir bem para sair, se for uma mulher, marque para ela um salão de beleza para que arrume os cabelos e as unhas, faça uma maquiagem. Mostre para ela como o banho pode ser gostoso e relaxante. Quando a pessoa com depressão começa a se cuidar mais, mesmo sem vontade, olhar no espelho e ver a sua aparência poderá ser um pouco reconfortante para sua auto-estima, e isto é bem melhor para ela do que se ver suja, mal arrumada, com o rosto abatido.

8- DÊ APOIO EMOCIONAL CONTÍNUO 

 

Uma das coisas mais importantes que a pessoa com depressão precisa é se sentir amada pelos que estão à sua volta. Nunca deixe de demonstrar amor, dizer o quanto a pessoa é especial e querida para você e para outras pessoas. Esclareça para outros familiares e amigos o momento pelo qual a pessoa está passando, para que tenham compreensão e ajudem a fornecer este apoio emocional. Peça para que as pessoas liguem, convidem-na para sair, ajudem-na a descobrir novas atividades e também a ajudem com as tarefas diárias. Não se frustre se, mesmo diante de toda demonstração de apoio e ajuda, a pessoa não lhe retribuir e parecer não estar reconhecendo os seus esforços. Lembre-se que esta dificuldade de reação é um sintoma da doença, não leve para o lado pessoal. Separe a pessoa da doença, ou seja, encare que a doença provoca a apatia, e não a pessoa que é mal agradecida, isto lhe ajudará a não se frustrar com ela.

 

9- CUIDADO COM AS PALAVRAS
Pode ser que, diante da sua exaustão em tentar animar a pessoa com depressão e não ter sucesso aparente, você acabe dizendo algumas palavras que podem piorar a situação. Lembre-se que a palavra-chave nestes casos é paciência, muita paciência. Algumas falas precisarão ser controladas por você para não piorar a situação da pessoa que você cuida.
O que não dizer?
- “Não seja tão pessimista, veja o lado positivo das coisas”: você pode dizer isto na melhor das intenções, mas se concentrar nas coisas boas da vida não é fácil para quem está com depressão. É como se a mente forçasse a pessoa a enxergar somente o lado negativo da vida.
- “Pare de fazer drama”: esta fala pode aumentar ainda mais a dor do deprimido, pois o que ele mais quer é sair deste estado e se sente frustrado e culpado por não conseguir isto tão fácil. Quando alguém lhe diz isto, ele se sente ainda mais incompreendido e solitário, fazendo-o se fechar ainda mais para o mundo e para a vida.
O que dizer?
- “Você não está sozinho neste vale escuro.”
- “Eu amo você!”, “Você é muito especial para mim.”
- “Eu acredito muito que tudo isto vai passar, confie também.”
- “Se precisar de alguma coisa, é só dizer. Posso passar na sua casa amanhã para ver como estão as coisas?”
- “Pensei muito em você hoje.”
- “Você está se saindo muito bem!” (elogie-o perante pequenos avanços).



Em casos de pensamentos suicidas:
Pensamentos de desilusão com a vida são constantes no depressivo. Diante disto, você deve observar o seu discurso (daí a importância da escuta ativa) e analisar a constância em que ele fala sobre querer morrer ou tirar a própria vida. Se você observar possíveis riscos de suicídio, ou se já aconteceram tentativas, alguns cuidados são fundamentais:
- Elimine o acesso da pessoa a qualquer objeto cortante (como facas, giletes, estiletes, tesouras) ou substâncias que poderia ingerir para causar sua morte (remédios, acetonas, perfumes). Neste caso, sempre que a pessoa precisar utilizar algum destes objetos, você ou outra pessoa deverá entregar a ela, observar o uso e recolher novamente.
- Não deixe a pessoa sozinha em hipótese alguma. A depressão faz com que a pessoa, em muitos momentos, queira se isolar; isto deve ser respeitado, mas, em caso de risco de suicídio, há uma exceção. Sempre deve ter alguém com a pessoa em casa, se estiver no quarto, a porta deve ficar aberta e alguém atento ao que pode acontecer. Também não deve sair de casa sozinha, deve estar sempre acompanhada.
- Converse com o profissional. Informe o médico sobre a magnitude das intenções suicidas para que ele possa avaliar as medicações. Converse com o terapeuta para que ele dê um enfoque intenso nesta questão. Se a pessoa tiver pensamentos suicidas, é praticamente proibido ficar sem acompanhamento médico e psicológico.



Creio poder ter ajudado com estas dicas. Meu desejo é que você, que convive com alguém em depressão – seja um pai, mãe, filho, marido, esposa, amigo – leia e leve em consideração as informações fornecidas. Se você utilizá-las, pode ter certeza que estará fazendo o melhor que pode para ajudar a pessoa amada que vive este momento tão difícil. E não se esqueça de cuidar de você: você precisa estar bem para poder ajudar a outra pessoa.



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Sinais de que você pode estar com depressão!

Ela é o mal do século. A Organização Mundial de Saúde (OMS) enunciou que a depressão será o problema mais comum do mundo entre 2020 e 2030, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo o câncer e doenças cardíacas. A depressão atinge cerca de 121 milhões de pessoas ao redor do mundo e está entre as principais causas que contribuem para incapacitar uma pessoa. Somente no Brasil, estima-se que 17 milhões de pessoas sofram com a doença. 
É caracterizada por uma tristeza profunda, uma “dor na alma”. O que a população deve entender é que a depressão é uma doença como qualquer outra, precisa de tratamento. As pessoas não resistem em procurar um médico e tomar medicações para tratar uma diabetes, um problema cardíaco, problemas renais, dores de cabeça, câncer, e tantos outros, mas resistem em procurar um psiquiatra ou psicólogo para tratar a depressão. A depressão não é uma fraqueza e nem falta de força de vontade como muitos acreditam. Quando ela se instala, é porque aconteceu uma série de fatores que contribuíram para o surgimento da síndrome e, assim, existe uma disfunção na produção de neurotransmissores no sistema nervoso que contribui para o humor deprimido, sendo a medicação um componente terapêutico fundamental para regularizar a produção destas substâncias e contribuir para a remissão dos sintomas. Não tenha medo das medicações. Não tenha medo do tratamento psicológico. A utilização de remédios e psicoterapia se mostram muito eficazes para a cura.
Pontuarei 8 sinais principais que caracterizam sintomas de depressão, fique atento:
 
  1- TRISTEZA PROFUNDA SEM UMA CAUSA ESPECÍFICA
É comum todos nós ficarmos tristes diante de um acontecimento ruim. É aquela tristeza que passa com o tempo. Mas a tristeza da depressão é diferente. Ela é profunda e vem de repente, sem ter um acontecimento ruim ou algum aborrecimento. Ela simplesmente aparece e é incontrolável pela pessoa. É como se tudo, de repente, ficasse “cinza” e a vida perdesse o sentido. A pessoa relata sentir uma tristeza “profunda, sem razão e incontrolável”, ou seja, não se consegue simplesmente “pensar positivo” para afastá-la. Na maioria dos casos, há choros freqüentes que vêm “do nada”. 



2- PERDA DE INTERESSE EM ATIVIDADES QUE ANTES TRAZIAM PRAZER
Praticar um esporte, passear com amigos, viajar, namorar, ouvir música, descansar, enfim, quaisquer atividades que antes a pessoa sentia prazer em realizar perdem o sentido. Mesmo que a pessoa se esforce, tente, não sente vontade alguma em realizá-las. Começa a recusar convites e a não querer sair de casa.



3- ALTERAÇÕES NO SONO E NO APETITE 
O sono começa a ficar perturbado. Pode ser que a pessoa não consiga dormir, tenha insônia, sono agitado e muitos pesadelos. O contrário também pode acontecer: sono exagerado, a pessoa quer dormir quase o tempo todo. O sono do depressivo é diferente de o sono de uma pessoa cansada, pois a pessoa com depressão pode querer dormir o tempo todo para não sentir a tristeza que sente quando está acordada e diminuir o contato com a vida.
O apetite também sofre alterações. Na maioria dos casos, a pessoa não consegue comer. É como se houvesse uma trava na garganta que impedisse a comida de descer. Em outros casos, a pessoa pode comer muito, encontrando na comida sua única fonte de prazer.
   


4- 4- DORES NO CORPO SEM CAUSA MÉDICA CONSTATÁVEL
Além da tristeza emocional, a depressão pode causar disfunções fisiológicas, como dores de cabeça, dores musculares, disfunções no aparelho digestivo (vômitos, diarréias), cólicas, dentre outros. Se não houver uma causa médica constatável para estes sintomas físicos, e os outros sintomas psicológicos estiverem presentes, pode ser que as disfunções sejam sintomas da depressão.



5- DIMINUIÇÃO DA CONCENTRAÇÃO NAS ATIVIDADES
O rendimento no trabalho e nos estudos diminui significativamente. A pessoa não consegue se concentrar por muito tempo em uma leitura ou em qualquer atividade mental, em alguns casos, nem mesmo durante um filme que antes lhe interessava. Há maior dificuldade na memorização de informações. A mente começa a divagar constantemente, o que atrapalha a concentração. Mas, importante: isso não significa que há problemas neurológicos ou prejuízos da inteligência; com a melhora da depressão, a concentração, memória e inteligência voltam ao normal, sem nenhuma sequela. 



6- CANSAÇO FORA DO COMUM
Uma atividade que anteriormente a pessoa realizava sem grandes esforços, agora, começa a ficar bastante enfadonha. Qualquer coisa é cansativa demais. Isto porque a depressão causa uma drástica queda na energia. Por exemplo: uma pessoa que tinha uma rotina de trabalhar o dia todo e depois realizar outras atividades, com a depressão, se cansa muito ao fazer somente ¼ do que era acostumada a fazer. No trabalho e nos estudos, a pessoa fica bem mais lenta. Na maior parte do tempo, a pessoa quer ficar deitada, e não raramente, em um quarto escuro.
 

7- ISOLAMENTO SOCIAL
Por causa da falta de interesse nas atividades, a pessoa recusa convites para sair de casa. Mesmo quando está em casa, por causa da tristeza profunda, não tem interesse em conversar, não se engaja em assuntos e não se anima na companhia das pessoas. A falta de compreensão dos outros da magnitude de sua tristeza, o choro constante sem explicação, cobrança de outros para que a pessoa se anime e a própria cobrança interna da pessoa por não conseguir se interessar pelas conversas são fatores que fazem com que o deprimido queira distância do contato social, se isolando cada vez mais.



8- FALTA DE VONTADE DE VIVER E PENSAMENTOS CONSTANTES SOBRE MORTE
Pelo fato de nada animar a pessoa, a tristeza ser constante e incontrolável e a grande dificuldade em realizar qualquer atividade, desde trabalho e estudo à atividades de lazer; a pessoa com depressão começa a não encontrar razão para continuar vivendo. Pensamentos de que a vida não tem sentido, o vazio inexplicável e a dor emocional profunda e incontrolável faz com que os pensamentos de morte se tornem presentes. Em casos mais graves, há tentativas de suicídio.



Se você se identificou com pelo menos 5 destes sinais, procure um médico ou um psicólogo para avaliação. Pode ser que você realmente esteja com depressão. Mas não se assuste e nem desanime: as chances de cura são grandes, você só não pode, de forma alguma, se recusar a se tratar! Quanto antes começar o tratamento, mais rapidamente estes sintomas irão diminuir gradativamente até desaparecerem. Não sofra sozinho, além do tratamento médico e psicológico, que lhe ajudarão muito, procure conversar sobre o que está sentindo, esteja perto de familiares e pessoas de sua confiança. Não alimente os pensamentos de morte, com o tratamento, eles vão passar. Não tenha preconceito em procurar psiquiatra e psicólogo, não é sinal de loucura, são profissionais preparados para lhe ajudar.





sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Expectativas

       No início do ano, é muito comum traçarmos novos planos e metas para serem alcançados no decorrer do ano. As pessoas prometem fazer dietas (entram na academia), tratar melhor seus familiares, estudar mais, trabalhar mais, passar em um concurso, casar, economizar dinheiro, mudar hábitos, etc. Começam a investir energia, tempo e dinheiro para que as metas sejam cumpridas. Algumas vezes, estes objetivos realmente se concretizam, em outros, não.
       Mais importante do que os objetivos de fato se realizarem ou não, é a forma com que você encara a vida. A maneira com que você interpreta as situações. A forma com a qual você lida com as expectativas e as deposita sobre si mesmo, sobre os outros e sobre as situações. O acúmulo de expectativas e situações mal-resolvidas geram estresse. Por exemplo: você se propôs a fazer dieta mas, no primeiro mês, por descuido, não conseguiu emagrecer e até ganhou peso. O que você deveria fazer? Seguir uma dieta, rotina de exercícios físicos, mudança de hábitos; estas soluções são racionais, lógicas e diretas. Mas, se ao invés disso, você ficar reclamando esse cobrando “por que eu não consegui?”, “realmente emagrecer não é pra mim”, “eu sou fraco, não tenho força de vontade”; isso é uma forma distorcida de encarar a situação e, assim, sua meta será acompanhada de estresse e, conseqüentemente, desânimo.
       Estabeleça metas e corra atrás delas, mas não se cobre e nem se culpe excessivamente se algo não der certo. Ao invés disso, pare,pense e analise a situação: Por que não deu certo? Pode ser que o seu tempo tenha sido curto. Pode ser que sua meta não tenha sido realística. Pode ser que não tenha surgido oportunidades (ex: não saiu o concurso público que você esperava). Pode ser que tenham surgido gastos extras e não tenha sobrado dinheiro. Enfim, muitas variáveis envolvidas. Mas pode ser também falta de empenho pessoal. Independente do que seja, ao invés de reclamar e se culpar, adote soluções racionais, lógicas e práticas, para que o estresse não aconteça e você não desanime.

Que 2015 seja um ano de realização de sonhos para você!

Como traumas de infância podem se transformar em ansiedade na vida adulta?

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