No texto anterior, discorri sobre o
que é a depressão, sinais e sintomas, características, pensamentos e
sentimentos de um portador da doença. Para complementar, considero importante
transmitir informações para aqueles que convivem e cuidam de algum familiar ou
amigo com depressão.
Cuidar de uma pessoa com depressão não é uma tarefa muito simples. Se você convive com alguém com o distúrbio, sabe que é trabalhoso. Você precisa avaliar bem as palavras que vai dizer, além de, em muitos momentos, não saber o que fazer para animar a pessoa, sente que todas as suas tentativas de alegrá-la estão sendo em vão. De fato, a pessoa com depressão se torna muito mais sensível a uma simples palavra ou brincadeira, se fecha em seu mundo e não se anima a fazer quase nada do que você propõe. Talvez a impressão que você tenha é que ela nem te escuta e não leva em consideração os seus esforços para ajudá-la. Neste sentido, disponho algumas informações e dicas importantes para lhe ajudar melhor nesta tarefa:
1- ENTENDA O QUE É A DEPRESSÃO
Se você cuida de uma pessoa com depressão, é indispensável à você obter o máximo possível de informações sobre o transtorno. Leia, estude, pesquise, converse com outras pessoas que vivem a mesma situação. Quanto mais você fizer isto, melhor vai entender a pessoa com quem você convive. Você conseguirá detectar os sintomas e compreender que o desânimo, os choros, a falta de vontade de viver e o isolamento não são simplesmente “frescura” ou falta de força de vontade da pessoa, mas que são características comuns à doença. A depressão não é uma escolha, e não desaparece com um simples pensamento positivo ou com saídas de casa e envolvimento em atividades, a questão é bem mais complexa. Não adianta falar para a pessoa “Não seja tão baixo-astral”, pois se ela conseguisse simplesmente não ser tão negativa, ela não seria. É como se você disse para um surdo: “deixe de ser surdo”. Repito: a depressão não é uma escolha, é uma condição em que a pessoa se encontra (assim como um surdo, um cego, um diabético), e esta pessoa precisa de muita ajuda e paciência para sair deste estado. Compreender a magnitude da doença ajudará você a ser mais paciente com a pessoa que você cuida.
Se você cuida de uma pessoa com depressão, é indispensável à você obter o máximo possível de informações sobre o transtorno. Leia, estude, pesquise, converse com outras pessoas que vivem a mesma situação. Quanto mais você fizer isto, melhor vai entender a pessoa com quem você convive. Você conseguirá detectar os sintomas e compreender que o desânimo, os choros, a falta de vontade de viver e o isolamento não são simplesmente “frescura” ou falta de força de vontade da pessoa, mas que são características comuns à doença. A depressão não é uma escolha, e não desaparece com um simples pensamento positivo ou com saídas de casa e envolvimento em atividades, a questão é bem mais complexa. Não adianta falar para a pessoa “Não seja tão baixo-astral”, pois se ela conseguisse simplesmente não ser tão negativa, ela não seria. É como se você disse para um surdo: “deixe de ser surdo”. Repito: a depressão não é uma escolha, é uma condição em que a pessoa se encontra (assim como um surdo, um cego, um diabético), e esta pessoa precisa de muita ajuda e paciência para sair deste estado. Compreender a magnitude da doença ajudará você a ser mais paciente com a pessoa que você cuida.
2- OUÇA ATIVAMENTE, SEM JULGAMENTOS
Permitir a pessoa falar de sua
tristeza a ajudará a colocar para fora um pouco da angústia que está sentindo.
Cabe a você incentivar que a pessoa fale. É importante que você ouça sem
julgamentos. Não brigue com ela quando disser que não tem mais vontade de
viver, que não há nada de bom na vida; simplesmente deixe-a falar o que está
sentindo. Se você reprimir, ela se sentirá ainda mais culpada por estar tendo
estes pensamentos e sentimentos, o que poderá piorar o quadro depressivo. Não
demonstre susto se ela disser que pensa em se matar, pois se você encarar esta
revelação dela com muita repulsa, ela não falará sobre isso com você; neste
caso, você poderá tomar outras providências que serão apontadas mais adiante. A
pessoa deprimida se condena diariamente, e a última coisa que precisa é de
outra pessoa que lhe aponte o dedo.
3- INCENTIVE A PESSOA A SE TRATAR E NÃO INTERROMPER O TRATAMENTO
Assim que você perceber que a pessoa
está com sinais de depressão, deve incentivá-la a procurar ajuda profissional o
mais rápido possível. Quanto mais rápido o tratamento começar, mais rápida a
recuperação. É muito comum a pessoa não aceitar ajuda de um psicólogo ou
psiquiatra, por ainda ter estigmas de achar que “está descontrolada” ou “louca”,
ou por pensar que é uma tristeza que vai passar com o tempo. Sim, uma tristeza
reativa passa com o tempo, mas a depressão não; esta última, pelo contrário,
quanto mais a pessoa demorar a se tratar, mais difícil e resistente a doença
fica. Em alguns casos, a pessoa está numa depressão tão profunda que acredita
não possuir forças nem para falar sobre o que está sentindo e freqüentar
consultas médicas e psicológicas. Ajude a pessoa a compreender que é uma doença
como qualquer outra (doença cardíaca, gripe, diabetes) e precisa de tratamento.
Incentive-a a prosseguir no tratamento, tomar as medicações e se engajar na
terapia, pois, não raramente, a pessoa pode achar que não está adiantando nada
e abandonar o tratamento. A recuperação da depressão é um processo longo, que
exige perseverança e paciência, por isso, faça o máximo para que a pessoa não
desista de se tratar, mesmo que o tratamento seja demorado.
4- PASSE TEMPO DE QUALIDADE COM A PESSOA
A tendência do depressivo é se isolar.
De fato, em alguns momentos, a pessoa vai precisar ficar sozinha para chorar e
elaborar sua dor, mas você deve cuidar para que ela não fique muito tempo só.
Seja uma companhia agradável que não julgue sua tristeza, que não a condene
pelo choro excessivo (deixe-a chorar, pois o choro ajuda a aliviar os
sintomas). Invista em tempo de qualidade e estimule a pessoa a voltar, aos
pouquinhos, a realizar as atividades que antes lhe davam prazer. Faça isto sem
forçar e sem muita intensidade, pode acontecer de a pessoa sair e querer voltar
para casa rápido. É importante incentivar, mas, ao mesmo tempo respeitar os limites
da pessoa; de fato, ela não conseguirá fazer as coisas na mesma freqüência e
intensidade do que antes da depressão. Converse com ela sobre assuntos alegres,
assistam vídeos engraçados e filmes de comédia para estimular o riso, que
libera Endorfina e ajuda a aliviar os sintomas momentaneamente.
5- FAÇA EXERCÍCIOS FÍSICOS COM A PESSOA
Disposição para se exercitar é algo
que o deprimido definitivamente não tem. A depressão provoca uma queda de
energia que faz com que a pessoa só queira ficar deitada e se canse com muita
facilidade. Contudo, o exercício físico constitui uma ferramenta poderosa no
combate à depressão. Após 30 ou 40 minutos exercitando o corpo, o nosso libera
Endorfina, que produz sensação de relaxamento e bem-estar. Além disso, o
exercício físico estimula, no cérebro, a produção de Serotonina – uma
substância que está em baixa no cérebro do depressivo e responsável pelos sintomas
- ; aumento na produção de Serotonina significa diminuição dos sintomas
depressivos. Com certeza, a pessoa não estará disposta a fazer uma aula pesada
de ginástica, ou uma aula de luta, ou grandes corridas; mas comece a fazer
junto com ela uma simples caminhada, de preferência em um lugar que tenha contato
com a natureza, e aos poucos, você vão aumentando a intensidade dos exercícios.
6- AJUDE A PESSOA COM AS TAREFAS DIÁRIAS
Para o deprimido, qualquer pequena
tarefa parece ser difícil demais. Uma dona de casa pode uma grande dificuldade
em lavar uma louça. Uma recepcionista pode não ter forças para atender um
telefone (por isso muitos são afastados do trabalho para tratamento). Assim,
ajude-a a organizar seu quarto, preparar uma refeição, fazer uma ligação para
resolver algo, levar a roupa para lavanderia, ir ao banco pagar uma conta,
dirigir para ela, marcar ou desmarcar algum compromisso. Se a pessoa tiver que
fazer tudo sozinha, terá muitas dificuldades (por causa da diminuição da
energia, da concentração e memória) e se sentirá ainda mais culpada por algumas
coisas na sua vida não estarem sendo resolvidas. Pequenas ajudas da sua parte
ajudarão a diminuir um pouco as obrigações da pessoa e o “peso” que ela está
sentindo.
7- AJUDE A PESSOA A SE CUIDAR
Não raramente, a pessoa com depressão
descuida de si, pode não querer tomar banho, escovar os dentes, pentear os
cabelos, vestir uma roupa bonita. É importante que você não force e não dane
com a pessoa por isso, mas, com muito tato e persuasão, incentive-a a se vestir
bem para sair, se for uma mulher, marque para ela um salão de beleza para que
arrume os cabelos e as unhas, faça uma maquiagem. Mostre para ela como o banho
pode ser gostoso e relaxante. Quando a pessoa com depressão começa a se cuidar
mais, mesmo sem vontade, olhar no espelho e ver a sua aparência poderá ser um
pouco reconfortante para sua auto-estima, e isto é bem melhor para ela do que se
ver suja, mal arrumada, com o rosto abatido.
8- DÊ APOIO EMOCIONAL CONTÍNUO
Uma das coisas mais importantes que a
pessoa com depressão precisa é se sentir amada pelos que estão à sua volta. Nunca
deixe de demonstrar amor, dizer o quanto a pessoa é especial e querida para
você e para outras pessoas. Esclareça para outros familiares e amigos o momento
pelo qual a pessoa está passando, para que tenham compreensão e ajudem a
fornecer este apoio emocional. Peça para que as pessoas liguem, convidem-na para
sair, ajudem-na a descobrir novas atividades e também a ajudem com as tarefas
diárias. Não se frustre se, mesmo diante de toda demonstração de apoio e ajuda,
a pessoa não lhe retribuir e parecer não estar reconhecendo os seus esforços. Lembre-se
que esta dificuldade de reação é um sintoma da doença, não leve para o lado
pessoal. Separe a pessoa da doença, ou seja, encare que a doença provoca a
apatia, e não a pessoa que é mal agradecida, isto lhe ajudará a não se frustrar
com ela.
9- CUIDADO COM AS PALAVRAS
Pode ser que, diante da sua exaustão
em tentar animar a pessoa com depressão e não ter sucesso aparente, você acabe
dizendo algumas palavras que podem piorar a situação. Lembre-se que a
palavra-chave nestes casos é paciência, muita paciência. Algumas falas
precisarão ser controladas por você para não piorar a situação da pessoa que
você cuida.
O que não dizer?
- “Não seja tão pessimista, veja o
lado positivo das coisas”: você pode dizer isto na melhor das intenções, mas se
concentrar nas coisas boas da vida não é fácil para quem está com depressão. É como
se a mente forçasse a pessoa a enxergar somente o lado negativo da vida.
- “Pare de fazer drama”: esta fala
pode aumentar ainda mais a dor do deprimido, pois o que ele mais quer é sair
deste estado e se sente frustrado e culpado por não conseguir isto tão fácil. Quando
alguém lhe diz isto, ele se sente ainda mais incompreendido e solitário,
fazendo-o se fechar ainda mais para o mundo e para a vida.
O que dizer?
- “Você não está sozinho neste vale
escuro.”
- “Eu amo você!”, “Você é muito
especial para mim.”
- “Eu acredito muito que tudo isto vai
passar, confie também.”
- “Se precisar de alguma coisa, é só
dizer. Posso passar na sua casa amanhã para ver como estão as coisas?”
- “Pensei muito em você hoje.”
- “Você está se saindo muito bem!”
(elogie-o perante pequenos avanços).
Em casos de pensamentos suicidas:
Pensamentos de desilusão com a vida
são constantes no depressivo. Diante disto, você deve observar o seu discurso
(daí a importância da escuta ativa) e analisar a constância em que ele fala
sobre querer morrer ou tirar a própria vida. Se você observar possíveis riscos
de suicídio, ou se já aconteceram tentativas, alguns cuidados são fundamentais:
- Elimine o acesso da pessoa a
qualquer objeto cortante (como facas, giletes, estiletes, tesouras) ou
substâncias que poderia ingerir para causar sua morte (remédios, acetonas,
perfumes). Neste caso, sempre que a pessoa precisar utilizar algum destes
objetos, você ou outra pessoa deverá entregar a ela, observar o uso e recolher
novamente.
- Não deixe a pessoa sozinha em hipótese
alguma. A depressão faz com que a pessoa, em muitos momentos, queira se isolar;
isto deve ser respeitado, mas, em caso de risco de suicídio, há uma exceção. Sempre
deve ter alguém com a pessoa em casa, se estiver no quarto, a porta deve ficar aberta
e alguém atento ao que pode acontecer. Também não deve sair de casa sozinha, deve
estar sempre acompanhada.
- Converse com o profissional. Informe
o médico sobre a magnitude das intenções suicidas para que ele possa avaliar as
medicações. Converse com o terapeuta para que ele dê um enfoque intenso nesta
questão. Se a pessoa tiver pensamentos suicidas, é praticamente proibido ficar
sem acompanhamento médico e psicológico.
Creio poder ter ajudado com estas
dicas. Meu desejo é que você, que convive com alguém em depressão – seja um
pai, mãe, filho, marido, esposa, amigo – leia e leve em consideração as
informações fornecidas. Se você utilizá-las, pode ter certeza que estará
fazendo o melhor que pode para ajudar a pessoa amada que vive este momento tão
difícil. E não se esqueça de cuidar de você: você precisa estar bem para poder
ajudar a outra pessoa.
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