segunda-feira, 1 de junho de 2015

O processo de escolha do parceiro






Quando uma pessoa escolhe outra para ser seu parceiro (ou parceira), existe uma série de mecanismos psicológicos envolvidos que vão nortear e validar esta escolha. Estes mesmos mecanismos são fundamentais também para entender as crises que acontecem dentro de um relacionamento amoroso. Para que você possa entender melhor este tema, é importante entender primeiramente o que são os “Esquemas Mentais”.

Os esquemas mentais consistem em um conjunto de idéias que temos a respeito de nós mesmos e de nossas relações com os outros. É um padrão de pensamento estável, duradouro e que norteia nosso funcionamento diante do mundo. É uma espécie de lente repleta de vivências, pensamentos, sentimentos e situações através das quais uma pessoa observa os acontecimentos. Por exemplo: uma pessoa que possui um esquema mental de abandono (provavelmente por ter sentido algum grau de abandono durante sua infância) tende a ter falta de confiança nas pessoas e pode evitar relacionamentos íntimos por medo de ser abandonado. Os esquemas são formados assim:

TEMPERAMENTO INATO + EXPERIÊNCIAS NA INFÂNCIA = ESQUEMAS

Estes esquemas são acionados em diversas situações da nossa vida. Uma pessoa que viveu em um ambiente cheio de conflitos na infância, em sua vida adulta, sempre que viver ou presenciar uma situação de conflito que, de alguma forma, relembre o ambiente de sua infância, terá seus esquemas mentais acionados e, juntamente com eles, seus medos e inseguranças.



Neste sentido, o que acontece no processo de busca de um parceiro?

A pessoa tende a recriar o ambiente que viveu na infância, seja ele bom ou ruim;
A pessoa atribui ao outro e a própria relação a condição de resolver suas necessidades internas;
A pessoa procura um alicerce para crescimento pessoal.




A escolha do parceiro é direcionada para:

Satisfazer demandas pessoais, tanto conscientes como inconscientes;
Para confirmar idéias precoces quanto a si mesmo e quanto ao mundo;
Para reeditar interações de conflito vivenciadas no passado, oferecendo uma possibilidade de resolução ou manutenção do conflito.



O relacionamento amoroso é o tipo de relacionamento mais próximo que temos do relacionamento com a nossa família de origem.  É por isso que, neste tipo de relacionamento, tendemos a querer recriar o ambiente da nossa infância. As famílias funcionam de acordo com seus sistemas de crenças passados de geração em geração, e quando duas pessoas se unem para formar um casal, cada um leva para o casamento um conjunto de crenças vividas com sua família de origem, e neste ponto é que podem começar a surgir os conflitos. A construção da relação amorosa se dará pelo entrelaçamento dos esquemas mentais com os do parceiro originando demandas específicas.  Na relação conjugal, estes esquemas são ativados.
 Quando há predomínio dos esquemas adaptativos (vivências infantis percebidas como positivas) no relacionamento amoroso, o relacionamento se construirá a partir da soma de habilidades individuais, estabelecendo-se um clima de cooperação e cumplicidade que fortalecerá o casal e também cada pessoa. A relação será satisfatória e dirigida para o crescimento.  Mas, quando a escolha se dá com base nos esquemas desadaptativos (vivências infantis percebidas como dolorosas, podendo gerar interações perturbadas na vida adulta),a relação se construirá de forma perturbada, tendendo a reforçar estes esquemas por meio de pensamentos distorcidos, o que propicia um clima de insatisfação e conflito crônico.


Segue abaixo uma tabela que mostra alguns esquemas desadaptativos, o que significa cada um deles e as respostas que geram em um relacionamento amoroso:


ESQUEMA MENTAL
SIGNIFICADO
RESPOSTAS EM UM RELACIONAMENTO AMOROSO
Abandono
Falta de confiança nas pessoas disponíveis para apoio.
- Seleciona parceiros não confiáveis para relacionamento.
- Evita relacionamentos íntimos por medo de ser abandonado.
Desconfiança
A pessoa tende a achar que será magoada, enganada ou trapaceada pelos outros.
- Não confia no parceiro.
- Não se entrega emocionalmente.
Privação Emocional
Acha que seus desejos de apoio emocional não serão atendidos.
- Seleciona parceiros incapazes de satisfazer suas necessidades emocionais.
- É emocionalmente exigente.
Vergonha
A pessoa percebe-se como inferior, indesejada ou indigna de amor.
- Isola-se, evitando a expressão genuína de sentimentos.
Isolamento social
Sentimento de não pertencer a nada nem a ninguém.
- Foca-se mais nas diferenças do que nas semelhanças com o parceiro.
- Evita proximidade.
- Faz de tudo para igualar-se ao parceiro (camaleão).
Dependência/ Incompetência
A pessoa acha que é incapaz de assumir responsabilidades no dia-a-dia sem o auxílio dos outros.
- Não faz nem decide nada sem perguntar ao parceiro.
- Evita situações em que tenha que tomar decisões.
Vulnerabilidade à danos e doenças
Medo exagerado de que algo ruim aconteça.
- Teme situações de conflito na relação e, por isso, não aborda temas polêmicos com o parceiro.
Emaranhamento/
Self subdesenvolvido
A pessoa tem um excessivo envolvimento com a família de origem e falta de identidade conjugal.
- Não assume papel na vida com o parceiro e não se envolve muito no relacionamento.
- Sempre está recorrendo à família de origem para todos os temas de sua vida.

Fracasso
A pessoa tende a acreditar que sempre vai falhar, em tudo.
- Evita situações de conflito.
- Nega qualquer problema ou dificuldades na relação.
Merecimento/ Grandiosidade
A pessoa acredita ser superior aos outros, merecedora de privilégios e direitos especiais.
- Intimida e constrange o parceiro com suas próprias realizações.
- Evita situações nas quais não possa se mostrar superior ao parceiro.
Insuficiência de auto-controle e auto-disciplina
A pessoa tem dificuldades no controle dos impulsos, desejos e emoções; e fica muito irritada quando algo não dá certo.
- Impulsivo e agressivo na relação.
Subjugação e Auto-sacrifício
A pessoa de submete excessivamente aos desejos do outro para evitar abandono.
- Extremamente devotado ao parceiro, esquecendo de si próprio.
- Evita discordar do parceiro.
- Evita situações em que seus desejos próprios desejos fiquem em primeiro plano.
 



Espero que este texto tenha sido esclarecedor, ajudando você a entender como os processos psicológicos de cada ser humano influenciam na busca de outra pessoa para namorar ou casar. Que você possa fazer uma reflexão a respeito dos seus próprios esquemas mentais, como eles atuaram (ou atuam) na escolha do seu parceiro e como estes mesmos esquemas podem estar predispondo algumas crises no seu relacionamento. Se você identificou esquemas desadaptativos, preste bastante atenção neles e procure não reforçá-los.  Um bom psicólogo pode ajudar você com relação aos seus próprios esquemas, para que você aprenda a lidar melhor consigo mesmo e com seu parceiro.

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