Comparar-se com os
outros é uma tendência natural do ser humano. Na ausência de meios objetivos,
procuramos comparar-nos com outras pessoas visando avaliar nosso desempenho,
nossas atitudes, quem somos; ou seja, as outras pessoas servem-nos como ponto
de referência. Existem inúmeros benefícios ocasionados de uma comparação
saudável; entretanto, neste texto, gostaria de enfocar aquelas comparações que
podem prejudicar nossas vidas.
As redes sociais têm
feito com que muitas pessoas recorram a comparações de maneiras excessivas e
inadequadas. Uma pessoa que sofre de “comparacite” olha as atualizações de seus
amigos nas redes sociais (que costumam colocar apenas os momentos bons e
felizes de sua vida) e começa a pensar “como o fulano é feliz em seu namoro/
casamento, e eu com todas essas crises aqui”, “vejo a quantidade de viagens que
aquela pessoa faz, para tantos lugares bonitos, a vida financeira dela deve
estar muito boa, enquanto eu estou custando a pagar minhas contas”, “estou vendo
a quantidade de amigos daquela garota e os eventos sociais que ela vai, e eu
aqui numa solidão danada”, “como ele está bem sucedido no trabalho”, “estou
pasmo do quanto a família do fulano é feliz e equilibrada”; e tantos outros
pensamentos, que faz com que a pessoa acredite que a vida dos outros está uma
maravilha enquanto a sua está um caos. Já atendi pessoas que acompanham vidas
de pessoas famosas pelas redes sociais e ficam observando o estilo de vida
destas celebridades, que mostram os lugares requintados que freqüentam, a
facilidade com que viajam pra o exterior, o consumismo desenfreado, o “corpo
perfeito”, os carros, mansões, negócios e, quando estes seguidores olham sua
própria vida, pensam “não consigo fazer nem 1% de tudo isso”, e se sentem inferiores,
desvalorizando seus próprios feitos e conquistas diárias. Comparamo-nos com os
outros em diversas facetas, como características pessoais, habilidades,
famílias, relacionamentos, talentos, posses, poder, status, prêmios.
O Dr. Arthur Freeman e
Rose DeWolf, em seu livro “As 10 bobagens mais comuns que as pessoas
inteligentes cometem”, escreveram um capítulo direcionado à mania de
comparação, no qual constam algumas questões relevantes sobre o assunto que eu
gostaria de discutir. Ao nos compararmos com outras pessoas, esta comparação
acontece de duas formas:
1- Comparamo-nos
àqueles que têm mais no que nós, e não aos que têm menos.
As suas comparações
acontecerão com mais freqüência com pessoas que você considera que “são mais do
que você”. Você se comparará a quem tem mais dinheiro, a quem tem melhor
desempenho no trabalho, a quem tem mais facilidade no esporte, quem você
considera mais bonito, enfim, todos que você considera “ter mais”, o que fará
que você se sinta inferior. Dificilmente você se comparará a quem parece ter
menos e se sentir satisfeito e valorizado.
2- Comparamo-nos a quem
acreditamos ser nossos concorrentes
Você não procurará se
comparar freqüentemente com o presidente dos Estados Unidos, ou ao cientista
que ganhou o prêmio Nobel, ou à modelo que ganhou prêmio internacional – a não
ser que você almeje alguma destas coisas e essas pessoas se tornem seus
oponentes. Mesmo que em outro momento do texto eu tenha citado o quanto as
pessoas se comparam até mesmo com pessoas famosas em redes sociais, o alvo da
comparação costumará ser aqueles que apresentam alguma semelhança com você, que
de alguma forma você se identifica e considera seu concorrente. Essa pessoa
será seu colega de trabalho, seu vizinho, a mulher/ homem que você considera
uma ameaça para seu relacionamento amoroso, seus amigos, familiares, e todos
com os quais haja algum grau de semelhança, convivência ou concorrência.
Prejuízos da comparação
excessiva
Uma comparação saudável
e necessária é aquela que tem como resultado um fator de motivação (quero ser
como aquela pessoa que eu admiro) e aprimoramento, de forma que esta pessoa
gera em você um ponto de referência saudável que lhe faz buscar melhora e
crescimento. Contudo, quando os frutos da comparação extrapolam este resultado,
ela pode trazer alguns prejuízos.
· - Você desiste das tentativas para atingir
seu objetivo: “como nunca vou ser o melhor vendedor como aquela pessoa, nem
adianta tentar”; “como eu me acho muito mais feia do que outras pessoas, nem
compensa eu me arrumar”, “como nunca vou tocar violão tão bem quanto meu
professor de música, é melhor eu nem tentar”.
· - Pode instalar em você um contínuo
complexo de inferioridade, fazendo com que você desvalorize tudo o que você tem
em detrimento à uma valorização de tudo o que é do outro. É onde se encaixa a
conhecida frase popular: “a grama do vizinho está sempre mais verde que a
minha”.
· - Você pode ter uma ânsia tão grande em
querer se igualar ao outro que é capaz de fazer qualquer coisa, mesmo que não
tenha condições de tempo, financeiras ou emocionais para isto. Por exemplo: às
vezes você quer tanto ter um carro como o do seu amigo, mas não tem condições
financeiras para tê-lo; em nível de “comparacite”, pode comprar um carro do
mesmo nível ou até melhor, mesmo sem ter condições, o que pode ocasionar em
dívidas, descontrole financeiro e outros problemas por querer igualar-se ou
sobressair ao seu amigo.
Alguns
passos para evitar a comparação desregulada
1-
Não tire conclusões da vida do outro com
base em um único fato
Talvez
você imagine que a pessoa com a qual você se compara é uma pessoa muito feliz
porque é bem-sucedida na profissão. Mas, como você pode ter certeza de que ela
é plenamente feliz por isso? Se ela diz para todos que é muito feliz e você
queria ser como ela, que certeza você pode ter se está tudo bem as nas outras
áreas da vida dela? Como serão seus relacionamentos? E sua saúde? A felicidade
do ser humano não pode estar baseada em apenas uma área que é aparentemente
satisfeita. Muitas pessoas querem mostrar que estão felizes em seu casamento,
mas ninguém sabe o que acontece só entre os dois. Procure saber da história
toda, em todos os sentidos.
2-
Cuidado para não criar uma fantasia de
que os outros vivem em um “mar de rosas”
Dr.
Arthur Freeman cita: “É fácil acreditar que os outros não têm problemas, que
conseguem tudo com facilidade, que vivem num mar de rosas, sobretudo quando não
os conhecemos muito bem. Se estamos comparando a nossa própria vida com aquela
que inventamos para alguém, vai ser difícil evitar o sentimento de
inadequação”. Não raramente, ouvimos histórias de milionários e/ou celebridades
que relatam infelicidade, se afundam em depressão, vício em drogas ou cometem
suicídio (como Robin Williams, Marylin Monroe, Michael Jackson e sua tristeza);
e a sociedade sempre assusta, por criar uma fantasia de que pessoas bem
sucedidas na carreira e financeiramente possuem uma vida de plena felicidade.
Cuidado para não criar uma fantasia irreal de alegria das pessoas com as quais
você compara.
3-
Combata a tendência em supervalorizar os
aspectos positivos do outro e desvalorizar os seus
Quando
você estiver deslumbrado com a maravilha que é família da outra pessoa
(normalmente uma interpretação baseada em um único aspecto ou fantasia de
perfeição do outro que você cria), olhe para a sua família que, mesmo com
problemas, possui seus aspectos positivos importantes que talvez outras
famílias não tenham. Ao imaginar o quanto seu colega é realizado por ser tão
reconhecido no que faz (no trabalho, com seu talento), olhe também para seus
talentos e o trabalho que você realiza, podem não ser exatamente iguais aos do
seu colega, mas alguém já lhe deve ter dito o quanto os seus potenciais são
relevantes e contribuem para algo. As outras pessoas têm suas conquistas, qualidades
e realizações, mas você tem as suas, mesmo que sejam diferentes, mas são únicas
da sua personalidade e história. Seja justo em suas comparações.
4-
Compare-se com você mesmo
Ao
invés de gastar suas energias comparando-se excessivamente aos outros,
compare-se com você mesmo. Faça uma comparação de você hoje com você há 5 anos
atrás, o que mudou para melhor? O que você desenvolveu? O que você aprimorou?
Compare-se também com o seu futuro, ou seja, com a possibilidade do que você
pode vir a ser no futuro, no que você é capaz de conseguir.
Se você percebe
sofrer de “comparacite”, reflita nestas questões e inicie este desafio
assumindo o controle dos seus próprios pensamentos que estão relacionados à
comparação desregulada. Você vai perceber que sua vida pode ser bem mais fácil
e satisfatória se você se comparar aos outros com uma freqüência menor.
excelente texto. obrigado
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