Quando uma pessoa escolhe outra
para ser seu parceiro (ou parceira), existe uma série de mecanismos psicológicos
envolvidos que vão nortear e validar esta escolha. Estes mesmos mecanismos são
fundamentais também para entender as crises que acontecem dentro de um
relacionamento amoroso. Para que você possa entender melhor este tema, é
importante entender primeiramente o que são os “Esquemas Mentais”.
Os esquemas mentais consistem em
um conjunto de idéias que temos a respeito de nós mesmos e de nossas relações
com os outros. É um padrão de pensamento estável, duradouro e que norteia nosso
funcionamento diante do mundo. É uma espécie de lente repleta de vivências,
pensamentos, sentimentos e situações através das quais uma pessoa observa os
acontecimentos. Por exemplo: uma pessoa que possui um esquema mental de
abandono (provavelmente por ter sentido algum grau de abandono durante sua
infância) tende a ter falta de confiança nas pessoas e pode evitar
relacionamentos íntimos por medo de ser abandonado. Os esquemas são formados
assim:
TEMPERAMENTO INATO + EXPERIÊNCIAS NA INFÂNCIA = ESQUEMAS
Estes esquemas são acionados em
diversas situações da nossa vida. Uma pessoa que viveu em um ambiente cheio de
conflitos na infância, em sua vida adulta, sempre que viver ou presenciar uma
situação de conflito que, de alguma forma, relembre o ambiente de sua infância,
terá seus esquemas mentais acionados e, juntamente com eles, seus medos e
inseguranças.
Neste
sentido, o que acontece no processo de busca de um parceiro?
▪A pessoa tende a
recriar o ambiente que viveu na infância, seja ele bom ou ruim;
▪A pessoa atribui
ao outro e a própria relação a condição de resolver suas necessidades internas;
▪A
pessoa procura um alicerce para crescimento pessoal.
A escolha do
parceiro é direcionada para:
▪Satisfazer
demandas pessoais, tanto conscientes como inconscientes;
▪Para confirmar
idéias precoces quanto a si mesmo e quanto ao mundo;
▪Para
reeditar interações de conflito vivenciadas no passado, oferecendo uma
possibilidade de resolução ou manutenção do conflito.
O
relacionamento amoroso é o tipo de relacionamento mais próximo que temos do
relacionamento com a nossa família de origem. É por isso que, neste tipo de relacionamento,
tendemos a querer recriar o ambiente da nossa infância. As famílias funcionam de
acordo com seus sistemas de crenças passados de geração em geração, e quando
duas pessoas se unem para formar um casal, cada um leva para o casamento um
conjunto de crenças vividas com sua família de origem, e neste ponto é que
podem começar a surgir os conflitos. A construção da relação amorosa se dará
pelo entrelaçamento dos esquemas mentais com os do parceiro originando demandas
específicas. Na relação conjugal, estes
esquemas são ativados.
Quando há
predomínio dos esquemas adaptativos (vivências infantis percebidas como
positivas) no relacionamento amoroso, o relacionamento se construirá a partir
da soma de habilidades individuais, estabelecendo-se um clima de cooperação e
cumplicidade que fortalecerá o casal e também cada pessoa. A relação será
satisfatória e dirigida para o crescimento. Mas, quando a escolha se dá com base nos esquemas desadaptativos (vivências
infantis percebidas como dolorosas, podendo gerar interações perturbadas na
vida adulta),a relação se construirá de forma perturbada, tendendo a reforçar
estes esquemas por meio de pensamentos distorcidos, o que propicia um clima de
insatisfação e conflito crônico.
Segue abaixo uma tabela que
mostra alguns esquemas desadaptativos, o que significa cada um deles e as
respostas que geram em um relacionamento amoroso:
ESQUEMA MENTAL
|
SIGNIFICADO
|
RESPOSTAS EM UM RELACIONAMENTO AMOROSO
|
Abandono
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Falta de confiança nas pessoas disponíveis para
apoio.
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- Seleciona parceiros não confiáveis para
relacionamento.
- Evita relacionamentos íntimos por medo de ser
abandonado.
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Desconfiança
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A pessoa tende a achar que será magoada, enganada
ou trapaceada pelos outros.
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- Não confia no parceiro.
- Não se entrega emocionalmente.
|
Privação Emocional
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Acha que seus desejos de apoio emocional não
serão atendidos.
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- Seleciona parceiros incapazes de satisfazer
suas necessidades emocionais.
- É emocionalmente exigente.
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Vergonha
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A pessoa percebe-se como inferior, indesejada ou
indigna de amor.
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- Isola-se, evitando a expressão genuína de
sentimentos.
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Isolamento social
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Sentimento de não pertencer a nada nem a ninguém.
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- Foca-se mais nas diferenças do que nas
semelhanças com o parceiro.
- Evita proximidade.
- Faz de tudo para igualar-se ao parceiro
(camaleão).
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Dependência/ Incompetência
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A pessoa acha que é incapaz de assumir
responsabilidades no dia-a-dia sem o auxílio dos outros.
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- Não faz nem decide nada sem perguntar ao
parceiro.
- Evita situações em que tenha que tomar decisões.
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Vulnerabilidade à danos e doenças
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Medo exagerado de que algo ruim aconteça.
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- Teme situações de conflito na relação e, por
isso, não aborda temas polêmicos com o parceiro.
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Emaranhamento/
Self subdesenvolvido
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A pessoa tem um excessivo envolvimento com a
família de origem e falta de identidade conjugal.
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- Não assume papel na vida com o parceiro e não
se envolve muito no relacionamento.
- Sempre está recorrendo à família de origem para
todos os temas de sua vida.
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Fracasso
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A pessoa tende a acreditar que sempre vai falhar,
em tudo.
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- Evita situações de conflito.
- Nega qualquer problema ou dificuldades na
relação.
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Merecimento/ Grandiosidade
|
A pessoa acredita ser superior aos outros,
merecedora de privilégios e direitos especiais.
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- Intimida e constrange o parceiro com suas
próprias realizações.
- Evita situações nas quais não possa se mostrar
superior ao parceiro.
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Insuficiência de auto-controle e auto-disciplina
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A pessoa tem dificuldades no controle dos
impulsos, desejos e emoções; e fica muito irritada quando algo não dá certo.
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- Impulsivo e agressivo na relação.
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Subjugação e Auto-sacrifício
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A pessoa de submete excessivamente aos desejos do
outro para evitar abandono.
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- Extremamente devotado ao parceiro, esquecendo
de si próprio.
- Evita discordar do parceiro.
- Evita situações em que seus desejos próprios
desejos fiquem em primeiro plano.
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Espero que este texto tenha sido
esclarecedor, ajudando você a entender como os processos psicológicos de cada
ser humano influenciam na busca de outra pessoa para namorar ou casar. Que você
possa fazer uma reflexão a respeito dos seus próprios esquemas mentais, como
eles atuaram (ou atuam) na escolha do seu parceiro e como estes mesmos esquemas
podem estar predispondo algumas crises no seu relacionamento. Se você
identificou esquemas desadaptativos, preste bastante atenção neles e procure
não reforçá-los. Um bom psicólogo pode
ajudar você com relação aos seus próprios esquemas, para que você aprenda a
lidar melhor consigo mesmo e com seu parceiro.